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Topic-iconLivro: "A LUZ QUE PODEMOS VER" Autor:Anthony Doerr

7 anos 9 meses atrás#58por bruno

A LUZ QUE PODEMOS VER
Murilo Moreira Veras

O foco do próximo dia 29.06.16 no CLUBE DO LIVRO é o romance de Anthony Doerr – Toda Luz Que não Podemos Ver. O autor é norte-americano de Cleveland, atualmente residindo em Boise, Idaho. Finalista do National Book Awards, em 2014. Esta é sua primeira novela (novel como dizem em inglês).

Dividimos nossas considerações em dois tópicos.

1.O Livro, o Enredo, os Personagens

Não temos dúvida tratar-se de um best-seller. E digo por que: a) seu enredo (plot) se desenvolve em capítulos curtos, máximo de três páginas; b) cada capítulo é sincopado, com resumo de ação ou pequenos nichos de ação, dando fluência horizontal e vertical no tempo; c) os personagens, mais em quantidade que qualidade, se ajustam visando a solução do drama, portanto são descritos com pinceladas breves, apenas fáticas, sem maiores preocupações em tecer suas psicologias; d) os capítulos curtos são numerosos para arrastar o suspense da ação (típico do estilo best-sellers); e) praticamente não há simbolismo, mas um enigma, uma armadilha a ser descoberta (típico do best-seller policial, usual nos livros de Aghata Christie, Stephen King etc), no caso o diamante azul .

Narra-se um episódio extraído dentre inúmeros ocorridos na 2ª Guerra Mundial — assunto que parece inesgotável. É a história de dois personagens que se imbricam: uma menina cega, Marie Laure, parisiense, cujo pai David LeBlanc é chaveiro-mor do Museu de História Natural em Paris. Para instruir a filha e inclusive fazê-la percorrer certas áreas da cidade com segurança, ele constrói maquetes em madeira. Noutra ponta da narrativa, está o adolescente Werner Pfennig e sua irmã Jutta, órfãos alemães de pai e mãe que vivem num orfanato. O pano de fundo, o cenário – ou seja, todo o background da novela, nos quais se movem os personagens, são os horrores da guerra, a ação dos nazistas resistindo à iminente reação dos aliados. Hitler já ocupou o território francês, Paris vive sob o tacão do ditador e o vilarejo de Saint-Malo, na Normandia é onde as tropas nazistas se aglutinam para enfrentar os invasores – que se aproximam. Só que eles não sabem onde nem quando atacarão. Vige uma guerra de senhas, troca de informações, sinais de transmissão de um e outro lado, cada qual tirando proveito como pode. Enquanto isso, em Paris, os nazistas atendem a megalomania de Hitler de fazer um Museu Universal sob a direção nazista e passam a usurpar tudo é que são peças de arte dos museus. Von Rumpel é o oficial nazista encarregado de confiscar obras de arte para o suposto Museu de Hitler, principalmente joias e pedras preciosas em que ele é especialista. No Museu de História Natural há um diamante azul, intitulado “Mar de Chamas” sobre o qual corre mito centenário de trazer desgraça e tragédia a quem o possuir. Mas vale cerca de vinte milhões de francos. Rumpel começa a procurar o tal celebrado diamante. Para evitar o confisco de obras, o Museu fecha as portas e esconde como pode suas relíquias, inclusive o diamante “Mar de Chamas” que ninguém sabe com quem ficou, pois os dirigentes fizeram cópias e distribuíram entre si, cada um com um exemplar especial, para iludir os invasores. LeBlanc é um deles que é mandado fugir e se homiziar em Saint-Malo, onde vive seu tio-avô Etienne LeBlanc, um sujeito meio maluco, mas na verdade faz parte da resistência francesa. Tanto ele quanto Mme. Manec que cuida dele.

Os fatos vão num crescendo vertiginoso, visa-à-vis à aproximação do dia D dos aliados e a contraparte dos esforços nazistas de defesa, tudo correndo na surdina. A Gestapo age e prende todos os suspeitos possíveis da resistência, inclusive LeBlanc, o pai de Marie Laure e também Etienne, que faz transmissões aos aliados com um rádio escondido num guarda-roupa-alçapão, num dos quartos de sua casa em Saint-Malot.

Enquanto isso do outro lado da narrativa, Werner vai estudar na escola de Cadetes na Alemanha, é cooptado para investigar as transmissões clandestinas por ser especialista desde a infância, tem amigos como Frederick, rapaz considerado fracola que só gosto de pássaros e sabe tudo sobre eles e por isso é massacrado pelos próprios colegas, a mando de um chefe brucutu. O outro amigo é Volkheimer, espécie de gigante com coração infantil.

Término de Toda Luz Que Não Podemos Ver: a cidade de Saint-Malo é incendiada, os aliados invadem a Normadia, a confusão é enorme, o pai de Marie vai para um campo de concentração de quem não se tem mais notícia, Werner descobre as transmissões vindas da casa de Etienne, de certo modo salva a adolescente cega, por quem se apaixona de imediato, mas acaba preso e morre de maus tratos. Marie-Laure e outras adolescentes são estupradas pelos invasores russos, mas se salvam, ela inclusive vai viver muitos anos, morre em 2014, aos 86 anos em Paris, com filhos e netos. Frederick que fica paraplégico, vive em Berlim com a mãe. Volkheimer, o gigante amigo de Werner, é quem leva a bolsa dele à sua irmã Jutta, anos depois, dentro da qual se acha a maquete.

Só que não se sabe o fim do diamante azul “Mar de Chamas”, parece que está escondido numa casinha da maquete de Saint-Malo, feita pelo pai à filha cega.

2. À guisa de Crítica.

É um best-seller, classificado pelo The York Times com mais de 1 milhão de exemplares vendidos. Caiu no Clube por indicação de nosso vertiginoso leitor Veloso, companheiro inseparável de nossa roda literária. A novela do autor impressiona, é interessante, escrita com fôlego de jornalista, um verdadeiro roteiro cinematográfico, que ficaria melhor num filme de guerra de suspense. É triste, avassalador, como todo relato que se refira ao execrável nazismo – que não nos apraz absolutamente recordar.
Bem verdade que o livro é bem escrito, dentro da estilística de best-seller, nos leva a fazer muitas elucubrações, como os horrores da guerra e suas consequências no espírito humano. Mas, a nosso ver, tirante essas qualidades de ritmo e suspense, o autor comete alguns pecadilhos literários, sobretudo no tocante à própria dialética do verdadeiro suspense. É que o leitor, no final de contas, não consegue obter a resposta para o enigma proposto: cadê o diamante azul “Mar de Chamas”? O diamante é a chave da história? O nazismo trouxe um “Mar de Chamas” à ordem civilizatória mundial? O ser humano sai de uma guerra melhor ou apenas curtido pelo terror?

Quod ad demonstrandum.

Bsb, 17.06.16

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