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Topic-iconModernidade Líquida

6 anos 2 semanas atrás#80por bruno

Murilo Moreira Veras

O livro em exame, hoje, no Clube do Livro é de autoria do celebrado sociólogo Zygmunt Bauman, “Modernidade Liquida”— por sinal uma obra cara e de difícil aquisição, não se sabe bem porquê. Confesso, de minha parte, que lí da primeira e última página e, apesar da prodigalidade de argumentos e informações do Sr. Bauman — uma verdadeira catapulta de ideias, conceitos, citações — não ousei vislumbrar, em sua obra, uma conclusão congruente e também convincente.
Procurarei nesse comentário tentar dar clarividência ao livro, ao tempo em que tento explicar por que as ideias do autor destoam das que persigo como leitor atento, não só quanto sua exposição em si, mas principalmente pelo que considero uma espécie de libelo contra os valores conservacionistas que ainda subsistem na civilização dita ocidental. Na verdade, o Sr. Bauman, que se diz sociólogo de primeira linha, com essa obra, a nosso ver, dá certificado de um dos maiores apoiadores e defensores do socialismo de Estado, e pior, dando o respectivo suporte sociológico à disseminação e implantação da ideologia marxista ou neomarxista junto às sociedades. Acontece que, a despeito de toda sua cultura acadêmica, científica ou propedêutica, o Sr. Bauman destila, ao longo de todo o seu livro, sofismas e, certamente por isso, cai em inúmeros contradições. Apresento minha modesta crítica aos itens do Sumário:
Prefácio: Ser Leve e Líquido (pag.7)
Logo no prefácio uma sutil contradição: diz que o que é sólido pode liquefazer-se, mas logo pode voltar à sua forma natural. Ora, se uma coisa é sólida, vira líquida e depois retorna à sua forma original, então fica de certo modo prejudicado toda a noção de “modernidade líquida”, como primado da suposta nova ordem implantada ou a ser implantada.
A própria epígrafe de Paul Valéry — o qual não passava de um poeta, por sinal, imagístico — é controversa : a mente humana pode dominar o que a mente humana criou? Arguiremos: sim, a não ser que a criação obtida exorbite os limites da razão, no que então seria o caso de desfalque da própria razão, uma vez que a mente deve ter seus próprios comandos de defesa e razoabilidade.
1. Emancipação (pag.25)
De acordo com o sociologismo do Sr. Bauman, a “modernidade líquida” seria a metáfora de uma “nova ordem” social a que aderiria o mundo atual (pag.9) Ora, é justamente o epíteto utilizado pelo “Manifesto Comunista”, espécie de arriete que desmontaria o autoconfiante espírito da antiga sociedade, que ele denomina de “sociedade sólida”. Ora, isto não passa de um sofisma, porque se a tal liquefação da sociedade fosse a salvação do mundo, significaria que retornaríamos ao caos, à barbárie, ocorreria o inevitável esfacelamento dos costumes, as leis, o sedentarismo das sociedades e todas as tradições adquiridas, por séculos de vivência humana — isto, sim, que consubstancia uma sociedade sólida, sua liquefação significaria liquidá-la e assumir o absurdo. Essa velha ordem sólida, afirma, derrete-se, libertando a economia de seus tradicionais embaraços políticos (pag. 11). Ora, o socialismo, ao liquidar com as instituições, é que derreteria a própria civilização, com seus novos conceitos espúrias.

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6 anos 2 semanas atrás#79por bruno

Afirma o autor : “A rigidez da ordem é o artefato e o sedimento da liberdade dos agentes humanos.” Seria soltar o freio da liberalização, devido a fluidez crescente (pag.12). Ora, é justamente o regime socialista, e não o liberalismo, que freia os agentes e suprime a liberdade das pessoas, ao estatizar a economia. Afirma que a sociedade nos moldes antigos, portanto, no seu linguajar, sólida, está se derretendo e cita o divórcio nas famílias, mas, segundo ele “os nichos pré-fabricados da nova ordem” melhoraria as condições e perspectivas de vida (pag.14). Ora, o comunismo ruiu no norte europeu, porque não deu certo, o fracasso é geral onde a estatização é aplicada, exceto, talvez, a China, na qual vige um regime híbrido, socialismo/capitalismo.
Não se pode subestimar o advento da “modernidade líquida” na condição humana (pag.15). Convenhamos, melhor apontar os inúmeros defeitos dessa “modernidade líquida”. Adianta que essa mesma modernidade constitui a “principal ferramenta de poder e da dominação” (pag.17), com que contradiz seus argumentos de que trouxe “melhorias “ à sociedade — e mais, à base da força. Outra sua afirmação: na modernidade líquida, a maioria assentada (o nomadismo) é dominada pela elite nômade e extraterritorial (princípio da extraterritorialidade). Eis outra contradição do autor: mas o nomadismo não seria contra o socialismo, por impor as minorias revolucionárias?
O autor refere a modernidade líquida como uma distopia (o contrário da utopia, lugar desprovido de fantasia, onde impera o realismo cru) e diz ser feita sob medida para afastar os terrores e pesadelos de Orwell e Huxley. Ora, as distopias daqueles dois escritores evidenciam também como uma comunidade pode sofrer os pesadelos e as distorções por eles fantasiados, portanto, fica o dito pelo não dito.
Ainda neste item o autor conclama o uso da violência: “...a força emancipadora, a única esperança da liberdade a que um humano pode razoavelmente esperar” (pag. 30). Segundo SãoTomás de Aquino a força só é admissível para conquistar a liberdade e evitar a opressão — jamais o contrário, i.é, utilizar-se a força para exercer o que o autor designa como “coerção social”, justamente o que o socialismo faz, o uso da força para implantar sua ideologia na sociedade. À pag. 41, o autor dá duas características da modernidade líquida, que ele diz nova e diferente: a) declínio da antiga ilusão da crença; b)desregulação da privatização das tarefas e deveres modernizantes. Eis a verdadeira face do autor: apoiador do desconstrutivismo. À pag.52 ele reconhece haver um conflito entre individualização e igualitarismo, mas resolvido através da reflexão crítica e experiência corajosa. Refere-se ao temor que a sociedade tem à coletivização, sobretudo os cristãos.
2. Individualidade (pag.70)

Neste item o autor discute o lugar, as condições a que se sujeitam as pessoas sob a influência “pesada” da modernidade sólida. Evidenciamos alguns aspectos. Á pag. 101: “A vida organizada em torno da busca da aptidão promete uma série de escaramuças vitoriosas, mas nunca o triunfo definitivo.” E adverte: “ A busca da aptidão e um estado de autoexame minucioso, autorrecriminação e autodepreciação permanentes, e assim também de ansiedade continua.” Penso ser justamente o contrário, pois as pessoas buscam ter aptidão para alcançar um sentido na sua vida profissional e existencial, não para tornar-se angustiado. A aptidão é a busca à eficiência. A saúde é uma condição de proteção à vida, traz ansiedade na medida em que a pessoa a persegue de maneira irritante, tornando-se uma fobia. Citando Jeremy Seabrook (pag. 113), que afirma que, embora vivendo na mesma cultura dos ricos, sua pobreza se agrava em proveito dos que têm dinheiro, da mesma forma que pela recessão e crescimento. Respondo: por acaso o socialismo conserta, esse defeito, nivelando todo mundo por baixo?.
À pag. 115, o autor quer provar que a modernidade sólida estimula a proliferação de divórcios, principalmente entre os ricos, trazendo insegurança à família, aos filhos e espalhando “agonia e sofrimento” a vidas partidas, sem amor e perspectivas. A proliferação absurda de divórcios, fazendo do divórcio espécie de loteria, decorre da deterioração dos costumes na sociedade e o motivo que é seu corolário é a falta de sentido da vida — fundamentado na Religião.

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6 anos 2 semanas atrás#78por bruno

CONCLUSÕES

A dialética do Sr. Bauman é confusa e joga com fatos e elementos abstratos, como “política-vida”, indivíduo “de jure” e “de facto”, “esfera pública” e “poder público”, mas são espécies de sofismas — e o que ele afirma com essa astuciosa argumentação é que o setor privado, isto é, o liberalismo, está tentando por todos os meios e ações “invadir e tomar conta” do espaço da “polis”, local das discussões públicas. Contra isso, deve agir a tal “política-vida”, para “...assumir novamente a forma das visões da sociedade “boa” e “justa”, ou seja, a sociedade igualitária, o socialismo de Estado.
Seu livro faz uma panaceia crítica para liquefazer o mundo. Liquida a fatura da invididualidade em favor de um disfarçado socialismo. Critica a fobia do consumismo e da industrialização do corpo —com o que de certa forma estamos de acordo. O problema é que ele culpabiliza o liberalismo (leia-se capitalismo) pelos desacertos, no que até certo ponto também estamos acordes, mas o com que discordamos totalmente é quanto a alternativa de solução que apresenta, ou seja, o socialismo, que, segundo ele, resolveria tudo, melhorando o comportamento das pessoas, pela equalização de bens e política igualitária. Só não diz como, ao contrário subverte as coisas.
Afinal a tal modernidade líquida é um bem ou um mal? O socialismo que liquefaz o liberalismo sólido também é um mal? Seu esclarecimento não convence.
No seu “posfácio (pag.251), o Sr. Bauman faz um verdadeiro libelo a favor do socialismo, o remédio para acabar com a miséria humana. E termina o livro com essa pérola de seu sociologismo: “A tarefa da sociologia é assegurar que essas escolhas sejam verdadeiramente livres e que assim continuem, cada vez mais, enquanto durar a humanidade.” Ora, Sr. Bauman, os seres humanos fazem suas escolhas verdadeiramente livres ao exercerem sua liberdade de ações e pensamentos — jamais oprimidos por ideologias fascistas como as decorrentes do igualitarismo de Marx e Engel.
Bsb, 15.04.18

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