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Topic-iconCATADORES DE CONCHAS : SAGA DE UM RETRATO

5 anos 1 mês atrás#85por bruno

Murilo Moreira Veras

O livro de hoje — OS CATADORES DE CONCHA, a autora Rosamunde Pilcher, escritora inglesa, tradução de Luisa Ibañes. A autora é prolifera em livros do mesmo gênero e teor. São 697 páginas a serem consumidas pelo pobre leitor.

1. Estrutura

A autora estrutura o livro, não apenas em capítulos numerados, mas divide-o por protagonistas, personagens que dão corpo e verossimilhança ao enredo concebido. Nada inovador, ao contrário é uma marca, técnica geralmente usada pelos autores de best-sellers, basta conferir Sidney Seldom, Nora Roberts e quejandos. Aliás, Madame Pilcher não foge à regra da linhagem best-seller neste seu livro: é volumoso, profícuo em diálogos, com pitadas de romantismo e sexo. Para inovar um pouco, usa descrições minuciosas sobre flores, jardins, dar receitas de comidas, esmiunça o tempo em Londres e descreve em detalhes recantos ingleses.
A história se desenrola à época da 2ª Guerra Mundial, o local é Londres, justamente naquele período em que era bombardeada pelos aviões Luftwaffe nazista. Enquanto a população sofria, os aliados se preparavam para a invasão da Normandia, aquilo que foi o ato mais audacioso das nações para impedir o avanço da máquina de guerra do Eixo, visando conquistar o mundo. Assim, lugares estratégicos de Londres encontravam-se soldados ingleses e americanos, trabalhando juntos para a concretização do formidável feito. O livro trata desse assunto en passant, apenas alguns dos personagens são militares — caso de Ambrose, com quem Penélope, a principal figura do livro, se casa, ainda muito jovem e, depois, Richard, de quem se torna amante.
São 16 capítulos sobre os seguintes personagens:
1 – Nancy — filha primogênita de Penélope;
2 – Olívia — a caçula;
3 – Cosmo — amante de Olívia;
4 – Noel — irmão de Nancy e Olívia
5 – Hank — outro amante de Olívia;
6 – Lawrence Stern — pai de Penélope e avô dos três filhos, pintor e autor
do quadro Os Catadores de Conchas, que dá título ao livro;
7 – Antonia — filha de Cosmo, torna-se amiga de Penélope com quem vai
Morar, morto o pai;
8 – Ambrose — oficial a serviço da Marinha Inglesa e marido de Penélope;
9 – Sophie — mãe de Penélope e esposa de Stern, de origem francesa,
por isso requintada;
10 – Roy Brookner — dono e agente de uma galeria de arte em Londres, a
quem Penélope encarregou de anunciar e vender os quadros e desenhos de seu falecido pai;
11 – Richard — amante de Penélope, quando seu marido a abandonou,
militar, faleceu no dia D da invasão dos aliados à Normandia, contra
os alemães;
12 – Doris — amiga íntima de Penélope, refugiada com filhos, Penélope os
abrigou em casa nos tempos difíceis da 2ª Guerra Mundial;
13 – Danus — jardineiro contratado por Penélope, depois tornou-se seu ami-
go por se afeiçoarem um ao outro, tido como epilético, mas desmentido
por erro médico, amava Antonia — ambos agraciados com valores na
herança de Penélope;
14 – Penélope — filha única do casal Lawrence/Sophie, mãe de três filhos,
pivô central do livro, personagem forte, atitudes realísticas, herdadas
talvez do pai pintor de influência expressionista (quadro Os Catadores
Conchas);
15 – Dr. Enderby — advogado de Penélope, a quem ela encarregou
seu testamento, tendo este cumprido rigorosamente os itens, apesar
das desavenças dos filhos; e
16 – Srta. Keeling — na realidade Olívia, filha nova de Penélope, a que mais
tinha afeição à mãe, também a mais compreensiva diante dos supostos
desvios romanescos da mãezinha.

2. Enredo

Regras feitas a esse caldeirão de ações e sentimentos, agora é só Madame Pilcher distribuir os papéis, quem é quem no jogo, construir cenários, falas de um e de outros, colocá-los na dança das cadeiras, uma mulher independente (Olívia), outra nervosa e interesseira (Nancy), o rapaz conquistador que só visa ter lucro na vida (Noel), dois militares tragados pelos infortúnios da guerra (Ambrosio e Richard), pessoa amiga e sincera enaltecendo a vida (Doris), figurantes complementares para compor os vazios (Cosmo, Dr.Enderby) e para prover o plot de certas doses de magnanimidade, criando perssoas mais humanas e não figuras decorativas, surgem uma adolescente jogada de repente no mundo (Antonia) e um rapaz bondoso diagnosticado erradamente de epilético (Danus) os dois ganhando a afeição da personagem central e regiamente compensados no final. E está aberta a sessão da tarde de romance.

3. Apreciação

É o tipo de uma história para satisfazer um público romântico, com alguma dose de realismo, caindo como uma luva para o cinema. Daria um bom filme, talvez competisse com os romances de costume de Jane Austen. Claro que não teria o encanto milagroso de Casablanca, mas se aproximaria do dramalhão Dr. Jivago. Madame Pilcher até que caprichou descrevendo cenários encantadores, nos deu receitas interessantes, colocou falas algo convincentes em seus personagens, fez uma Penélope de carne e osso, despregando-a do clichê criado por Homero para a figura de sua Penélope no mitológico Ulisses. Nesta, disputaram-na vários pretendentes — na de Pilcher, só eram dois, rapidamente desaparecidos.
Rastreando-se mais os recônditos fios da meada inspiratória de Madame Pilcher, ousaríamos encontrar reminiscências de um Oscar Wilde, quando fez do quadro O Retrato de Dorian Gray uma visão demoníaca dos pecados praticados pelo seu proprietário. Aqui, nos pavorosos dias sofridos por Londres bombardeada pelos nazistas, o quadro de um pintor exótico significava, ao contrário, para Penélope, a dignidade, o amor e a beleza de um tempo perdido. Em Wilde, o personagem foi sentenciado pelo quadro satânico. Madame Pilcher, fez com que o quadro libertasse a personagem do passado desaparecido.

Bsb, 14.03.19

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