×Comentários de Livros

Topic-iconLIVRO DE CLUBE DO JANE AUSTEN — CRÔNICA POLÍTICA E SOCIAL?

5 anos 1 semana atrás#87por bruno

LIVRO DE CLUBE DO JANE AUSTEN — CRÔNICA POLÍTICA E SOCIAL?

Murilo Moreira Veras

O livro comentado em nosso Clube do Livro é: O CLUBE DO LIVRO DE JANE AUSTEN, de Karen Joy Fowler, autora de ficção científica e fantasia. Proponho-me fazer apenas algumas considerações sobre o citado livro.

1. Estrutura

A autora divide seu livro de acordo com o calendário que os integrantes leem os romances de Jane Austen: de março a novembro, depois capitulados. É uma técnica do modelo best-seller. São seis pessoas que se reúnem, cada um em suas casas ou locais determinados, para discutir sobre seis livros de Jane Austen, autora, ainda hoje best-seller de leitura: Emma (184/15), Razão e Sensibilidade (1790), Mansfield Park (1811 e 1813), A Abadia de Northanger (1790, publicado post-mortem), Orgulho e Preconceito (1796/7) e Persuasão (1814, publicado post-mortem). Só faltou o último livro de Austen Lady Susan (1871). Integram o grupo de leitura> Jocelyn, Bernadette, Sylvia e sua filha Allegra, Prudie e Grigg, o único elemento masculino.

2. Enredo

Não há propriamente um enredo normal neste livro da Sra. Fowler. Há uma certa mixórdia de ocorrências. Os integrantes do tal Clube se reúnem em determinado mês do ano, para discutir sobre os seis livros de Jane Austen. Não se vê o resultado positivo desses encontros, mas, sim, fatos que se dão com os personagens do suposto clube. Em outras palavras, é um romance tratando da vida dos próprios componentes do Clube. Daí o leitor ficar meio confuso. A autora parece pretender espelhar as narrativas de Jane Austen às ações e comportamentos dos integrantes do Clube, como se fosse possível comparar e conceitualizar épocas, com fatos e valores diferentes. Em razão disso, a leitura torna-se fastidiosa, enjoada e maçante.

3. Nosso comentário

Confesso, de minha parte, que pelo exíguo tempo que tive em virtude de minha viagem estar próxima (dia 10 deste) — do livro fiz uma leitura dinâmica. Pouco me interessaram as ocorrências das seis pessoas envolvidas, as futilidades, os desacertos, os desafetos de cada um, trejeitos, suspeitas de lesbianismo – deixo para as discussões tête-à-tête, o pingue-pongue final de nossos clubistas, a meu ver, muito mais inteligentes, reflexivos e autossuficientes em termos de conhecimento de vida do que essas fúteis e indóceis criaturas que se reuniram para refletir sobre a literatura de Jane Austen.

Prefiro tecer algumas considerações sobre o próprio mérito de Jane Austen, como escritora. Confesso também que nunca li suas obras de cabo-a-rabo. Passeio-as em revista, li algumas críticas sobre sua obra, a influência que exerceu até nossos dias, o que afinal ela quis dizer com esses seus sete romances. Alguns escritores de nomeada não gostaram de suas obras, como Ralph Waldo Emerson, que disse “... Acho difícil entender por que as pessoas têm os romances da Srta. Austen em tão alta conta, pois me parecem vulgares, estéreis em invenção artística...” Outro que não gostou: Mark Twain, autor de As Aventuras de Tom Sawer. Mas, muitos gostaram, como T.S.Eliot, Chesterton e Virginia Wolf — todos de envergadura que, salvo engano, ultrapassam os dois contrários.

Helena Kelly, professora de literatura de Oxford e autora do livro Jane Austen the Secret Radical, em entrevista à revista CULT, defende a obra de sua conterrânea, naturalmente puxando brasa para sua sardinha, também britânica. Segunda ela, Austen não se preocupou apenas com o protagonismo feminino, a lenga-lenga à lá M. Delly, faz críticas escondidas entre as intrigas romanescas, inclusive bem ostensivas, à escravidão (Mansfield Park), e apontando falhas na Igreja Anglicana. (Orgulho e Preconceito). Por isso, considerou-a uma escritora brilhante. Talvez eu não chegue a tanto, pela menos, sob minha ótica, muito superior a uma George Sand (apesar do nome era mulher), Simone de Beauvois, Margareth Atwood e outras bestselistas militantes antigas e atuais. Talvez tenha contribuído mais para a valorização da mulher do que certas feministas de hoje, por exemplo, as brasileiras Marilene Chaui, Rose Maria Muraro e Márcia Tiburi, cujas obras demonstram apenas despreparo intelectual e literário ao defenderem não o ser humano mulher, mas defender suas bandeiras ideológicas.

Finalizo essas sóbrias reflexões, para dizer que o tal Clube do Livro de Jane Austen, da autora de ficção científica, sob minha ótica, pouco contribui para o reconhecimento da obra da escritora britânica do século XIX. Seu livro é um torvelinho de fatos corriqueiros, que ela pretende conectá-los à escritura escorreita de Jane Austen, não sei a que título. Penso que nosso Clube tem muito mais condições, envergadura intelectual, vivência, tudo isso que somado aos frutos que já produzimos, com nossas leituras acumuladas — é sinal de que, nós, estamos bem mais à dianteira no que se refere à amizade e ao verdadeiro sentido da vida. Quod ad demonstrandum.
Bsb, 4.04.19

Please Acessar to join the conversation.

Moderadores: murilo
Tempo para a criação da página:0.256 segundos
Powered byFórum Kunena

Pesquisa Fórum

Palavra chave

Últimas do Fórum

  • Não há postagem a mostrar

Cotação Dólar

Facebook