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Topic-iconREDOMA DE VIDRO - UMA VIDA SEM SENTIDO

4 anos 11 meses atrás#88por bruno

Murilo Moreira Veras

1.Prólogo

O livro da poeta Sylvia Plath — A Redoma de Vidro — reflete a própria personalidade da autora. É sua única obra em prosa, mais conhecida como poeta. Como não tenho intimidade com a poética dela, só conheço agora seu romance. Pesquisando sua biografia, observo ter personalidade intimista, errática em termos culturais, sua vida particular atribulada, em virtude de seu caráter indócil — fato que transparece no presente livro, através da personagem Esther Grenwood.

2. Comentário

O fato de a autora ter personalidade forte não significa defeito como ser humano. Haja visto o personalismo desenvolvido por Emmanuel Mounier, escritor católico francês combativo, com cuja tese combateu, à altura, os absurdos do artificialismo marxista, que grassava à época — e também hoje — na França, preconizando substituir o humanismo por um sistema igualitarista sob o eufemismo de libertar o trabalhador das garras do capitalismo. A não ser que o titular da personalidade se transforme num ser altamente egocêntrico, como seria o caso de Sylvia Plath, a transparece também em sua biografia. Aliás, supõe-se ser traço característico de seu fazer literário, pelo menos nesta primeira e única obra ficcional da autora. A Redoma de Vidro ou Torre de Marfim onde a autora se homizia do mundo?

É o caso da personagem Esther, moça de classe média americana que, pretendendo ser escritora, antes experimenta várias decepções quando integra comitiva de propaganda de produtos de beleza, composta de estudantes universitários, vindas de várias cidades interioranas para servirem de verdadeiras cobaias em Nova York.

Acaba entrando em depressão profunda ante a decepção sofrida, não só com o concurso, mas, principalmente ante a falsidade dos objetivos da tal comitiva de beleza, inclusive a futilidade das moças, à falta de autenticidade devido o protagonismo que lhes infundem os promotores do evento, ali em Nova York.

Pesquisando na Wikipédia a biografia da autora, conclui-se que o livro A Redoma de Vidro não passa de sua biografia pessoal. Com uma diferença: o livro é bem mais compassivo com relação à personagem Esther.

Esta, apesar de seus ataques de loucura, inclusive se submetendo ao vexame, por conta própria, de perder a virgindade com um desconhecido professor universitário e, depois protagonizar o suicídio de sua amiga Joan, ainda assim vê-se que ela, Esther, é melhor que a autora Sylvia. É certo que, como soe ocorrer nas biografias, a autora procura sempre adocicar um pouco o comportamento de sua personagem.

Tanto que no final do romance, Esther vai ser liberada do hospital psiquiátrico, onde esteve internada como praticamente “louca varrida”. Na vida real, Sylvia Plath é sempre uma pessoa de temperamento irascível.

Tentou várias vezes o suicídio — como também o fez sua personagem Esther. Até que não mais suportou a compulsão, a falta de espiritualidade e, por não ter mais sentido na vida, comete de vez o ato final, inclusive de maneira absurda. Virgínia Wolf, por exemplo, jogou-se no mar, assim como a neta de Ernest Heminguay, este deu um tiro na cabeça.

Plath, já casa com dois filhos pequenos, toma grande quantidade de barbitúricos e, para ser diferente, enfia a cabeça no fogão da cozinha, morrendo quase instantaneamente. Teve um ato de caridade: resguardou os filhos desse ato ignóbil.

3. Impressão Crítica

Literariamente, o livro de Sylvia Plath se exaure em estilo auto-biográfico — na primeira pessoa, sem grandes ousadias estilísticas, a não ser manter a escritura escorreita, sem uso e abuso da linguagem bestselliana. Evita o diálogo exaustivo e procura descrever os fatos de maneira o mais realisticamente possível. É um pouco cruel ao descrever a personalidade Esther fora de si.

Em busca da originalidade, parece ser discípula de James Joyce. No livro, Esther, dentre outros, lê Finnegans Wakes (1939). Há certas semelhanças de seu estilo com a escrita afásica de Joyce, inclusive transcreve o trecho inicial daquela obra (páginas 139/140), para exemplificar o estado de insanidade da personagem. Noutro trecho (pag. 101), faz uma descrição de Eisenhower como se se tratasse de um debiloide.

O livro é interessante por devassar a vida de uma poetiza, considerada por certa crítica um dos gênios poéticos da modernidade. Não podemos dizer o mesmo, por desconhecer sua obra poético. Seu romance consegue alcançar apenas um grau acima da mediocridade. Aliás, seu enredo pouco ou nada contribui para nós da melhor idade no que se refere ao nosso bom e bem viver.

Bsb, 14.05.19

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