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Topic-iconO SOM, A FÚRIA E A ABSURDIDADE

4 anos 5 meses atrás#92por bruno

Sobre o livro do sr. William Faulkner – O Som e a Fúria discutido hoje no Clube do Livro, serei, de certo modo, curto, grosso e nem um pouco ingênuo. Colherei apenas algumas ideias, justificativas e outras evoluções mentais guardadas na mente — naturalmente resultante de minhas extravagâncias literárias.
De pronto, digo que não gostei do livro, de sua evolução, porque sem enredo digno do nome, um trabalho literário extremamente confuso, ao que parece transcrição da própria personalidade apoplética do autor.
Dou-me conta, assim, que quem melhor explica o livro do sr. Faulkner, a meu ver, é Jean-Paul Sartre no posfácio A Temporalidade na obra de Faulkner.

Concordo plenamente com a análise que fez da obra do autor americano. Aliás, até uma surpresa, pois Sartre se vangloria do ateísmo e diz, por exemplo, “que o inferno são os outros”. Mas nessa sua visão é otimista quanto ao futuro do ser humano, quando diz, ao final de análise: “ A perda de toda esperança, por exemplo, não exclui a realidade humana de suas possiblidades, ele é simplesmente uma maneira especial de estar em relação a essas próprias possibilidades.”

Já antes Sartre faz a seguinte pergunta: “Por que Faulkner e tantos outros autores escolheram essa absurdidade, que é tão pouco romanesca e tão pouco verdadeira?” Conclui-se, pela boca do próprio filósofo existencialista, que o gênero humano é um ser especial por estar em relação às possibilidades futuras — contrapondo-se frontalmente contra a visão pessimista do autor neste O Som e a Fúria.

O livro é uma imitação da estilística literária do início do século XX, preconizada por uma trupe de escritores e artistas, que se acreditavam célebres por terem inventado uma nova forma de escrever — o supostamente original “streams of consciousness” — fluxos da consciência — apoiado por Gertrude Stein (1847-1946), movimento a que aderiram Picasso, George Braque, Derain, Apollinaire, Francis Picabia, Exra Pounde, Paul Verlaine, Heminguay e James Joyce. Aliás, o fato é confirmado pelo próprio tradutor do livro, Paulo Henriques Britto, em seu posfácio, segundo quem Faulkner se espelhou em James Joyce, em seu famoso Ulysses, a nosso ver um dos maiores exemplos de nefelibatismo literário já escrito. A prova do imitatio é que ele escreveu O Som e a Fúria cinco anos depois da edição de Ulysses, segundo declara o próprio tradutor (pag. 349).

E impressionante: o próprio Faulkner declara em 1947: “Compreendi recentemente o quanto escrever lixo e textos ordinários para o cinema corrompeu a minha escrita.” Perguntamos, a propósito, o que é literatura, fazer ficção, escrever — é uma arte, uma brincadeira, um enigma, um silogismo enigmático, uma charada, como parece ser a escrita do autor? Os presunçosos modernistas combatiam o beletrismo. Ou a literatura tem função educativa, ou para-educativa, diríamos nós, promovendo e estimulando o simbolismo humano, dom civilizatório que marca o verdadeiro humanismo, a resgatar a imanência e a transcendência da pessoa humana?

A nosso ver o livro do sr. Faulkner não traz qualquer traço de bonomia, elevação e espiritualidade. Sua narrativa é seca, esdrúxula, recheada de noções e questões mefistofélicas, agressivas e atentatórias à razão e ao coração, enfim, uma verdadeira esbórnia de pessimismo. E pior: exibe sua maneira de pensar o ser humano, um ser apoplético e a vida, o mundo, um deserto fatalístico. O ser humano, totalmente sem futuro, sob a fúria das experiências negativas da vida e do mundo.

CONCLUINDO: O livro do sr. Faulkner é absolutamente nihilista, sua narrativa expele pessimismo, suas descrições são abstrusas e os diálogos estimulam a violência e o relativismo dos fatos e das coisas.
Não seria um livro recomendado para nós que ainda cultuamos a vida, apreciando o que lhe resta de belo e aproveitável, enquanto ainda somos vivos.
Murilo Moreira Veras Bsb, 26.11.19

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