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Topic-iconALBATROZ AZUL — UM DELÍRIO BAIANO

3 anos 3 meses atrás#104por bruno

O ALBATROZ AZUL - Ena Galvão

João Ubaldo Ribeiro

João Ubaldo Ribeiro, romancista, cronista, jornalista, tradutor e
professor, nasceu em Itaparica na Bahia em 1941 e morreu no Rio de Janeiro,
em 2014. Ganhou o Prêmio Camões em 2008.
No seu romance O Albatroz Azul, ele nos traz “cheiro de terra, gosto de
terra”, mas, não de uma terra qualquer, e sim, aquela das bandas da Bahia de
São Salvador, impregnada de ditos populares, crendices e orações elevadas à
sua divindade, não importando qual seja.
Nesse cenário, nasce e cresce Tertuliano Jaburu, seu principal
personagem. Já em idade avançada, sua esperança em “nova família”, vinha
de Belinha, sua filha temporã, casada com Saturnino Bororó., com quem tivera
oito filhas. Tertuliano, estava impaciente com o nascimento do neto, pois tinha
toda a certeza do mundo, de que agora, viria um varão. Dito e feito.
Providenciara logo os paninhos azuis para enrolar o menino, de forma
que não ficasse aos olhos dos outros, dúvida alguma sobre sua masculinidade.
O nome escolhido seria o do santo do dia 7 de janeiro. Deu São
Raymundo, com ípsilon. Como sobrenome colocou Penaforte, nome do
Caboclo, com cocar de penas coloridas, que desfila nesta data todo ano, pela
ladeira da Rua Direita, ostentando uma serpente, símbolo da opressão
portuguesa.
O parto não foi fácil. O menino estava sentado, mas a habilidade da
reconhecida aparadeira Alvina Pereira, resolveu o problema e o moleque veio
com “o traseiro virado para a lua”, indicando que teria sorte na vida.
Nestor Gato Preto, um respeitado vidente, amigo de Tertuliano, sugeriu
que os padrinhos da criança fossem Seu Zé Honório e Iá Roxinha, casal
correto e de posses materiais, pretos vindo de baixo e, em ótima situação
financeira. Tinha certeza de que eles ensinariam à criança bons exemplos e
ensinamentos. Assim foi feito.

Juvenal, o pai de Tertuliano volta para Portugal e, tempos depois, solicita
a presença do filho às terras além mar, para as tratativas da herança.
Recomendava que ele viesse casado. Caso contrário, teria de se casar por lá.
Iá Roxinha, sua madrinha que o criara, logo providencias as núpcias com uma
de suas filhas.: Catarina. No entanto, ele “dormira” (ou ficara acordado?) com
as duas e tinha filhos com ambas. Altina, a outra, perdeu a parada.
Mais uma vez Gato Preto aparece na história, fazendo revelação sobre
suas vidas e suas mortes. O pobre Tertuliano fica assobrado e com medo; fica
vagando pelos espaços, à espera do encontro com a “foice”. Em delírio, sai
caminhando para a lagoa e se vê diante de uma pedra falante que diz ser um
soldado holandês de nome Hendrik Beekman.
A alucinação toma conta de sua cabeça e ele se vê transformado em um
grande e belo Albatroz Azul que voa rumo ao sol e ao infinito.

O livro em pauta é interessante e nos traz com perfeição o retrato da
época, dos costumes e das pessoas daquele tempo. O estilo literário de João
Ubaldo é marcado pela ironia e contexto social do Brasil, abrangendo um
pouco a cultura portuguesa e ainda a africana. Lembra-nos Jorge Amado.
Tenho por hábito ler resenhas, particularmente as do Murilo Veras,
somente depois que concluo a minha. Pude perceber que, crítico literário que
é, estabelece uma diferença marcante com Jorge Amado, embora reconheça
que ele possa ter sido seu discípulo.
Foi agradável a leitura e valeu a pena!

Brasília, 21 de janeiro de 2021.

Ena Galvão

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3 anos 3 meses atrás#103por bruno

ALBATROZ AZUL — UM DELÍRIO BAIANO

Murilo Moreira Veras

Em pauta hoje no Clube do Livro, O ALBATROZ AZUL do escritor baiano João Ulbado Ribeiro, publicado sob o selo Nova Fronteira. Autor consagrado pela crítica literária, jornalista dos mais conhecidos, já falecido.
1. Prólogo

A orelha do livro faz uma apologia à obra do autor. Sabe-se que foi discípulo de Jorge Amado. Sempre que possível ele mantém alguma semelhança com a obra do mestre. Entre os dois, discípulo e mestre, há uma singularidade, que os separa a ambos — a criação literária. Ubaldo integra a convencionada linha do realismo mágico, seguida pelos autores sul-americanos, Garcia Marques, Miguel Astúrias, Carlos Fuentes, Juan Ruflo, Adolfo Bloy Casares, Júlio Cortazar e os brasileiros Murilo Rubião, José J. Veiga, Dias Gomes e até nosso singularíssimo Guimarães Rosa. Observe-se também outro viez que diferencia os dois, Ubaldo e Jorge Amado — a erudição. Ubaldo tem sua escritura trabalhada, respira erudição, enquanto Amado parece ligado às tradições dos rituais africanos, ao afoxé baiano, candomblé e outras pendengas e mandingas. É o que se observa, por exemplo, no romance de Amado Dona Flor e seus dois Maridos .

2. Enredo

O enredo é simplório, embora à medida que se desenvolve torna-se uma história fantástica. Tudo se passa (assim como nas obras de Jorge Amado), no tal Recôncavo Baiano, onde o impossível adrede acontecer. Tertuliano Jaburu — o personagem principal — cujo pai chama-se Juvenal Peixoto do Amaral Viana Botelho Gomes, por sua vez filho do rico negociante português Nuno Miguel Botelho Gomes, vive e mantém seus negócios herdados na Ilha, o Recôncavo. Sua mãe de criação e madrinha é Iaiá Cencinha, espécie de matrona que administra seus bens, também herdados, mulher forte, muito religiosa, mas rigorosa não só quanto a seus bens, mas na formação e criação de seu afilhado e considerado seu filho predileto, Tertuliano. O pai deste é Juvenal, que teve duas famílias, numa espécie de concubinato consentido, uma das mulheres, a Albina, era sua mãe. Sua filha Belinha, casada com Saturnino, agora vai ter um filho, o rebento será neto de Tertuliano. Por isso, ele está muito feliz pela nascença do rebento, inclusive porque é menino.

É quando ocorre o inacreditável: o menino nasce “de bumbum pra lua”, fato considerado de sucesso, grande felicidade para o rebento. O objetivo de Tertuliano é fazer seu neto sempre feliz, garantir seu sucesso na vida. Para isso vai dar-lhe o nome de santo — Raymundo Penaforte. Outra ideia lhe ocorre: escolher como seu padrinho Zé Honório, homem rico, de conduta ilibadíssima. Para isto faz-lhe uma visita, solicita seu aceite, a que Zé Honório acede de bom grado, comprometendo-se a educar seu afilhado como se filho fosse. A essa altura dos acontecimentos, Tertuliano, já com certa idade, tem a presunção de estar prestes a morrer. É atacado de delírios, num deles encontra-se numa lagoa, nela entra, quando se vê à frente de uma pedra que começa a falar, diz-se ser a pessoa de um soldado holandês por nome Hendrick Beekman. Algo a ver com Manuel Beckman, insurreto da Revolução em 1685, em São Luis-Ma contra a burguesia portuguesa, considerado protomártir da Independência do Brasil? A tal pedra falante diz ser a pessoa de Beekman, morto e transformado em pedra. Então, alucinado vê-se transformado num grandioso albatroz azul, agora se dirigindo em direção ao sol.

3. Nosso Comentário

Refletindo de mim para mim, devo confessar que o autor é uma espécie de dublê de Jorge Amado, apenas com uma diferença fundamental: é sua contraparte erudita. Amado sempre foi displicente nas letras, escrevia em jorros e vangloriava-se de seu viés populista, fabulatório representante da cultura baiana, com raízes africanas, decantando os ritos, rituais e lendas do afoxé, candomblé e quejandos. Ubaldo neste romance, como noutros publicados, segue os passos de seu mestre, embora de forma erudita. Não há negar que ele honra as letras do escritor baiano. Inobstante, em certos momentos, como soe ocorrer neste livro ele abusa de exagerado beletrismo, palavreado gongórico, certo preciosismo de termos e linguagem, como o disposto às páginas 156/7 — uropégio, desgravidado, pousadeiro, avoengo, nímias, ancilar, pluricopada ... — praticamente dispensáveis em obra de peculiaridade supostamente popular, igual a utilizada nos romances de Jorge Amado. Confesso que o livro não deixa de ser interessante, embora de leitura difícil devido a estilística arrastada do autor.

Bsb, 15.01.21

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