Acessar
1. O conde Aleksandr Ilitch Rostov (personagem principal) écondenado por um tribunal bolchevique, em 1922, após a revoluçãorussa, a cinco anos de prisão domiciliar no sótão do luxuoso,sofisticado e bem localizado Hotel Metropol em Moscou. O condenão podia ficar em quarto de luxo, sem mordomias, mas elecontinuou lutando e aceitando a nova vida. O conde havia escritoum poema, ainda em sua juventude, que poderia leva-lo à forca.Naquela época os inimigos do governo russo eram mandados para“gulags”, chegando a ter mais de dois milhões de prisioneiros.2. Em “Um Cavalheiro em Moscou”, Amor Towles demonstra que erapossível, através da cortesia e otimismo, uma pessoa passar trintaanos preso sem ceder ou sucumbir a transformações do mundo aseu redor. O mais importante é que o autor consegue descrevermais de três décadas da História da Rússia, incluindoacontecimentos muito importantes, inclusive eventosinternacionais, passando também informações importantes sobregastronomia, música, livros e outras.3. Apesar de muitas transformações, que alteraram o sistema políticoda Rússia no início do século 20, o hotel conseguiu se manter comoo predileto de estrelas de cinema, aristocratas, militares,diplomatas, militares, jornalistas e foi importante centro de disputasque marcariam a história mundial4. A capital foi transferida de Moscou para São Petsburgo, retornandopara Moscou mais tarde. Hoje o hotel está em decadência apesar debem situado, perto da Praça Vermelha,5. A revolução russa de 1917 acabou com a monarquia e houve muitamatança.6. Os grandes salões eram requisitados pelo governo para encontrosde interesse do Estado.7. As notas de rodapé são feitas pelo próprioautor/historiador/narrador Amor Towles.8. Muito importante: o livro nos proporciona a possibilidade deconhecermos mais a História da Rússia.Édios
Please Acessar to join the conversation.
Um cavalheiro em MoscouAmor TowlesO Conde Aleksander Ilitch Rostov viu e sofreu coma as bruscasmudanças provocadas em sua vida, quando da instalação do regime comunistana Rússia. Antes, um aristocrata, desfrutando de todas as benessesreservadas às elites, agora, um garçom exilado, em seu próprio país, residindono sótão do luxuoso Hotel Metropol.Passava o tempo, ora lendo os Ensaios de Michel de Montaigne, oraocupando-se da tarefa que lhe foi imposta como garçom. Formava com EmileJukovski, chef reconhecido por sua competência culinária, fazendo milagres emépocas de escassez, e Andrey, maitre do hotel, um Triunvirato da mais altacategoria.Sendo uma pessoa altamente sociável, sem pensamentos de vingança,tratava a todos, independente de hierarquia, com gentileza e cordialidade., atémesmo aqueles que estavam confinados no porão do Metropol, como osmordomos, cozinheiros e lacaios. Conhecia todos os funcionários pelo nome,os serviços, pela experiência e os estilos decorativos das suítes, pela memória.Sendo “convidado” a deixar a suíte em que morava, coube-lhe pequenoespaço no sótão. Era difícil desapegar te tudo que lhe pertencia por herança. Oespaço a ele destinado, não comportava tudo. Ficava pensando que, desdecedo, devemos aprender dizer adeus aos amigos e família. Mas, o difícilmesmo é dizer adeus aos pertences mais queridos. Eles são absolutamentenossos. Podemos fazer o que quiser: limpar, polir, mudar de lugar e lá ficamesperando até que nós os mobilizemos novamente.Instalado com o pouco que cabia naquela “suíte” improvisada, buscouuma forma de se adaptar. Agiu, derrubando um fundo de armário e ampliandosua nova morada. Anexou, secretamente, uma área, de modo que pudesseacrescentar móveis e objetos de sua antiga suíte. Tornou o espaço tão amplo,quanto sua imaginação permitia.Fez muitos amigos, durantes os anos em que ficou prisioneiro no hotel.Conheceu Nina, filha de um oficial russo, com apenas 9 anos, cuja mãefalecera. Tornaram-se amigos. Os diálogos entre ela e o Conde, eram repletosde aprendizagens mútuas, desafios, viagens, brincadeiras e literatura.Nina solicita ao Conde ensinar-lhe regras para se tornar uma princesa,incluindo requintes de boas maneiras, autocontrole, empatia e até palavrinhasmilagrosas como “por favor” e “muito obrigada”. Ela tinha um espíritoempreendedor e investigativo. Como criança inteligente, percorria todo o hotel,identificando cômodos e cada espaço. Possuía uma chave mestra, o que lhedava a vantagem de entrar e sair sem ser importunada.Os dois, passaram então, a percorrer todo o hotel. Chegaram, inclusive,a assistir às escondidas, uma Assembleia dos camaradas do novo poder. Erauma menina precoce, com bom entendimento dos fatos, estabelecia relaçõescom propriedade e buscava ideias sérias, tratando-as com seriedade.No Natal, o Conde a presenteara com o binóculo que fora de sua avó e,para sua surpresa, Nina lhe dera de presente a chave mestra do hotel.Nina cresceu e, junto a outros três camaradas, partiram num trem paraIvanovo, a fim de implantar a Primeiro Plano Quinquenal, elaborado em 1928.Aparece tempos depois, casada com Leo, preso e condenado a 5 anos detrabalho corretivo. Fruto dessa relação, havia Sofia de 5 anos.Ela pediu ao Conde que cuidasse da menina por um a dois meses,enquanto reorganizava sua vida. Explicou à filha o motivo do seu afastamentoe, em lágrimas, deixou o hotel. Nunca mais voltou. Desapareceu na vastidão doleste da Rússia.O Conde, efetivamente, assumiu Sofia como filha. Aos 17 anos era umajovem inteligente e refinada. Tinha a percepção e a clareza da mãe. Noentanto, tinham comportamentos diferente. Nina era impaciente e explosiva eSofia, preferia acreditar sempre na boa intenção. Era recatada e ouvia a todoscom atenção.Aprendeu a tocar piano com um maestro e tornou-se um gênio. Nãoapenas tocava, mas, colocava na música sua alma e seus sentimentos. Istofazia a diferença, o que lhe valeu um convite para integrar-se à OrquestraJuvenil Outubro Vermelho, de Stalingrado. Seu recrutamento foi feito de formaimperativa, por meio de uma requisição e uma nomeação compulsórias. Sofiatambém se foi.Marina, a camareira e costureira do hotel, era também sua amiga.Ajudou o Conde muitas vezes quando Sofia era pequena, ensinando-o acosturar e pregar botões. Preparação para os novos tempos.Outro dileto amigo era o Conde Mikhail, Membro do Partido. Estudaramjuntos na Universidade e dividiram, à época, um quarto, acima da loja de umsapateiro. Havia laços fortes entre eles e sua amizade permaneceu semprefirme. Por meio da arqueologia, fizeram grandes viagens no tempo.O Conde e Mikhail criaram a poesia do silêncio. O silêncio podia ser“uma forma de protesto, uma escola de poesia, com sua própria métrica, seustropos e suas convenções. Essa poesia não precisa ser escrita com lápis oucaneta, mas pode ser escrita na alma”. Isto custou ao grande amigo umapassagem para a Sibéria e ao “reino das reconsiderações”.Seu amigo reaparece tempos depois falando sempre na primeira pessoado plural, procurando abranger milhões de cidadãos que trabalhavam em todoo país. Estava magro, com o casaco surrado e mancando de uma perna.Quando foi notificado da morte deste amigo, deixou o pranto fluirlivremente. Mikhail havia deixado um livro – Pão e Sal – e dentro, umafotografia dos dois, quando jovens. Havia diversas passagens bíblicas e dediferentes autores, relacionadas com o pão. Ele se fora, depois de “comer opão que o diabo amassou”.Na vida do Conde também passaram pessoas interessantes como AnnaUbanova, atriz, com quem teve momentos de relacionamento; Óssip, doPartido, ajudou o Conde quando Sofia se machucou, encaminhando-a aoscuidados da camarada Samarova, em reconhecimento dos 15 anos de trabalhoque o Conde lhe prestara e, finalmente, Richard, ligado ao Departamento deEstado, foi decisivo ao acolher Sofia, quando fugiu e facilitar ser retorno“clandestino” à Rússia e aos braços do seu pai.Após a fuga de Sofia, facilitada com disfarces roubados pelo pai nassuítes do Metropol, o Conde também desaparece do hotel. A KGB interrogou atodos, mas em vão.O fugitivo caminhou bastante até uma aldeia, chegando a uma taberna,“E lá, no canto, uma mesa para dois, (...) a mulher que parecia um salgueiro,aguardava”.Não fiz referência ao autor, pois nosso colega, gentilmente nos bridoucom sai biografia. Grata, Edios. O livro é muito bom.A história me parece cíclica. Os tempos vão passando e, quando aopressão do homem sobre o homem recrudesce, o panorama muda.Acompanhando o desenrolar dos fatos, constatamos momentos muito próximosacontecidos em épocas passadas na França, Alemanha, Argentina, Cuba emuitos outros países.Estamos vivendo um momento delicado aqui. Esperamos que não hajaruptura. A grande massa popular é a que mais vais ser afetada com umdesenlace dos fatos, se não houver possibilidade de união em prol de todos.Brasília, 17 de junho de 2021.Ena Galvão
Por Murilo Moreira VerasEm pauta hoje o livro de Amor Towles — Um Cavalheiro em Moscou. O livro teve mais de um milhão de exemplares vendidos nos EUA — o que não deixa de ser uma referência. A meu ver não se trata, a rigor, de um best-seller pelas características que o distinguem. Ao contrário, o autor narra uma história fictícia, mas que parece real.1. PrólogoA história se passa na Rússia Soviética. Trata-se de uma crítica sutil ao regime comunista, inteligentemente desenvolvida. Também com sutileza, a despeito de reconhecer os defeitos intrínsecos do capitalismo libertário, os bolcheviques pelo seu regime voluntarista e autossuficiente.2. EnredoA trama é construída à moda de um livro policial, com pitadas de suspense, dentro de um quadro histórico da Rússia. O protagonista principal um conde — Alexandr Ilitch Rostov, pertencente à velha oligarquia moscovita, representando o principado da família Romanov, descendente da mais bem sucedida dinastia dos tempos modernos. O império foi desmontado pelos bolcheviques, que instalaram, a partir de 1917, a chamada ditadura do proletariado, segundo a teoria de Karl Marx e posta em prática por Lenine e Stalin, a ferro e fogo.O Conde Alexandr Ilitch Rostov é um dos sobreviventes dessa poderosa oligarquia, e, como ocorreu em massa por serem considerado um estorvo à nova ordem, foram eliminados. Por uma circunstância do destino, os mandatários do governo, sob o comando vigilante da poderosa NKVD, decidiram manter o Conde vivo, mas, como castigo, preso no Metropol, um hotel de luxo dos mais frequentados por estrangeiros em Moscou. Também o lugar predileto de reuniões da elite da Revolução — os mandatários da Rússia, agora governada pelo proletariado. O Camarada Stálin — o Querido Pai, Void, Koba, Soso, como conhecido o homem que dominou a Rússia cerca de trinta anos. Os ajudantes são Beria, minstro da segurança, Bulganin, das forças armadas, Malenkov, vice do Conselho de Ministros, Mikoian, do Comércio Exterior, Molotov, das Relações Exteriores, Kaganovitch e Vorochilov, do Secretariado e o prefeito de Moscou Nikita Khruschov — todos pertencentes ao apparatchic (pag.350). No dia 3.03.53, Stalin morria em sua residência em Kuntsevo por acidente vascular cerebral, substituído, depois de intrigas intestinas desses camaradas do Partido, pelo bruto e calvo Khruschov — aquele mesmo que de forma grotesca bateu os sapatos no plenário da ONU em 1960 (fato contestável hoje!).Preso no Metropol num minúsculo quarto de 5m, suíte 317, o Conde passa a viver e para sobreviver é nomeado chefe dos garçons, devido seus conhecimentos de vinhos, pratos de iguarias finas e fino trato com os clientes hóspedes do hotel. Acaba fazendo uma entourage de amigos, devido a convivência e a habilidade do Conde em lidar com as pessoas, desde os porteiros, aos garçons, o Chefe da cozinha e seus ajudantes, até a costureira Marina, de que se torna íntimo, por lhe fazer o favor de consertar suas roupas, pregar botões e outros pequenos serviços de costura.Mas porque mantêm o Conde preso? Seria um homem perigoso? Talvez — parece que tudo decorre de inveja dos mandachuvas bolcheviques e mantê-lo vivo e humilhado, seria um bom exemplo como inimigo do regime proletário. O Presidente do Conselho Comissariado do Povo, V.A. Ignatov, no processo de julgamento do Conde declara: “... se voltar a por os pés fora do Metropol, será baleado.”3. CríticaDo ponto de vista da técnica ou arte literária, o livro de Amor Towles é praticamente perfeito, diálogos afiados, personagens complexas, circunstâncias baseadas em locais reais, a trama bem construída, um suspense quase à la Hitchcock, não propriamente horrífero, mas de efeito suspensivo, o leitor no afã de saber afinal o que vai acontecer com aquele homem inteligente, de gestos polidos, sociável e erudito, durante tanto tempo — 36 anos — exprimido num quarto de hotel internacional no centro de Moscou.O atrativo na narrativa é que na trama o autor enxerta, nos diálogos e no próprio curso dos fatos, citações de autores eruditos ou escritores famosos, situações de livros — isso que na técnica literária denomina-se intertextualidade, tipo de citação ou alusão. Daí os diálogos serem ricos, inteligentes, não se tornam ociosos, o que sói ocorrer nos best-sellers devido à mediocridade de certos escritores. Apesar de suas 460 páginas.Ao correr da ação, o que o leitor quer saber é o que vai acontecer com o Conde. Já tentou suicidar-se uma vez, ato suspenso pelo olhar de um gato no telhado e o repentino chamado de um amigo. Tem uma amante, artista glamorosa, às vezes decadente — Anna Urbanova. Um embaixador americano se torna seu amigo e, mais tarde, cúmplice de seu ardil final — Richard Vanderwhile. Cria uma menina, filha de uma moça que conheceu muito jovem — Sofia. Um ex-coronel do Exército Vermelho e alto oficial do Partido gosta de seu convívio e ambos adoram Humphrey Bogart no filme Casablanca — Óssip Glebnikov. O poeta Mikhail Fiodorovitchkov é seu amigo de juventude e morre esquecido pela cúpula da nova ordem proletária moscovita.De repente, pelo final da estrepitosa vida do Conde no Metropol, dá-se uma verdadeira volta no parafuso da trama, o tour-de-force final. O Conde foge, na verdade ele trama a fuga, dele e da filha adotiva Sofia, uma trama minuciosamente elaborada, feita por um verdadeiro artista. Depois de um imbróglio com um espião do regime, foge do hotel, vai para Níjne Novgorod — importante centro econômico e cultural da Rússia. Sofia, sua filha, na verdade filha de Nina Kulikova, a amiga desaparecida, é instruída por ele, Conde, depois do concerto que vai fazer em Paris, em vez de retornar à trupe russa do conservatório, a pedir asilo à Embaixada Americana, através do embaixador Richard Vanderwhile.O autor construiu uma história realmente fascinante. É um dos livros mais interessantes, dos mais de cem que já li no Clube, pelo nível de interesse que nos desperta e a maneira escorreita de sua escritura, sem, em nehnum momento, mediocrizar o texto e aborrecer o leitor. Sem falar na crítica sub-reptícia que corre ao longo de toda a leitura pelo uso inteligente da interxtualidade literária.Bsb, 13.06.21