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Topic-iconA Cidade do Sol - Khaled Hosseini

2 anos 1 mês atrás#122por bruno

A Cidade do Sol
de Khaled Hosseini por Ena Galvão

Khaled Hosseini é um médico afegão, naturalizado estadunidense e autor de muitos romances de grande sucesso, entre eles, o Caçador de Pipas.
Neste livro o autor nos narrou uma bela história, que tem como palco o Afeganistão, antes da invasão soviética em 1979, levando à ascensão do Talibã e ao sofrimento de seu povo.
Tem-se a impressão de que sua narrativa abordou três histórias distintas: a de Mariam, mulher forte, serena e inabalável, Laila, uma jovem filha de professor, e com acesso à escola, de vida tranquila, como qualquer jovem de seu país. Enfim, a terceira parte, nos levou a participar da vida que essas personagens construíram juntas.
Mariam era uma filha harami (bastarda) de um rico comerciante chamado Jalil, dono de um cinema na cidade de Cabul e proprietário de terras e lojas. Ele tinha 3 esposas e 9 filhos legítimos. Sua mãe Nana, era uma das empregadas em sua mansão e, quando ele soube que ela estava grávida, mandou-a embora e acomodou-a num sítio próximo, numa cabana com o estrito e necessário para sua sobrevivência e a do filho que nascesse.
Quando Mariam nasceu, seu pai ia visitá-la às quintas feiras levando alimentos e gêneros de primeira necessidade. Foi crescendo e se acostumando àquela rotina. Gostava da presença do pai e o aguardava ansiosa. Ele lhe ensinou a pescar e a cantarolar cantigas tradicionais.
Outra presença que agradava a menina era a do Mulla Faizullah, líder comunitário, que lhe ensinava as preces, a recitação do Corão e a alfabetizou. Sua presença trazia tranquilidade a ela e a sua mãe.
Quando completou 15 anos, pediu ao pai como presente, ir à cidade de Herat e assistir a um filme em seu cinema. Constrangido, ele prometeu-lhe enviar alguém para buscá-la. Ela esperou em vão. O pai faltara com a palavra. Corajosamente, ela comunicou à mãe que iria atrás do pai. Nana insistiu para que ela não fosse argumentando que ele não a amava e a considerava “uma planta que se arranca e joga fora”.
Teimosamente ela foi. Chegou à cidade e perguntou onde morava Jalil. Todos o conheciam. Chegando ao portão, identificou-se como filha e o guarda que a atendeu foi avisar ao patrão, a visita que o esperava. Voltou dizendo que ele saíra. Ela estranhou pois o carro estava em frente à casa. Viu, então na janela, protegido por uma cortina, o rosto de seu pai. Grande decepção, que confirmava muitas coisas que a mãe sempre lhe falava.
Depois de passar a noite sentada em frente à casa, com fome e com frio à espera de ser recebida, resolveu voltar para seu casebre. Quando chega, depara com a mãe enforcada. Carregou essa culpa durante toda a sua vida. O único alívio para sua dor era a visita do Mulla. Ela queria ir morar com ele.
Arrependido, seu pai a leva para sua casa, confinando-a no quarto de hóspedes, até que ele e suas esposas encontrassem uma solução para Mariam. Resolveram, enfim, casá-la com um conhecido de seu pai, chamado Rashid, homem alto, barrigudo e de ombros largos. Ele tinha 45 anos e ela 15.
Casada, foi de ônibus para Cabul. Tristeza infinita. Sentia falta de sua mãe e do Mulla e considerava-se uma estranha naquela casa. Passou três dias no quarto. Ele vociferou, dizendo que sua casa não era hotel. Ela reagiu.
Ficou grávida e abortou. Sozinha, cavou um buraco no quintal e enterrou o feto. Outras seis alternativas frustradas. Rashid mudou totalmente. Mal falava com ela e passou a maltratá-la. Ele a agredia por ela não devolver a ele seu filho.
O país entrava em guerra. Os comunistas tomaram o poder. Nasceu Laila, a filha da vizinha Fariba. Seu pai era um homem culto, professor e pregava a igualdade entre homens e mulheres. Seu melhor amigo, Tariq viajou e seus dois irmãos foram lutar na guerra com os russos. Além de Tariq, Laila tinha duas amigas. Hasima, filha de um motorista de taxi e Giti. Ambas morreram em consequência da guerra.
Os pais de Laila recebem uma visita oficial comunicando-lhes a morte dos filhos em combate. A mãe caiu em depressão e o serviço da casa passou a ser feito por Laila.
Em 1988 foi assinado um acordo para a retirada dos soviéticos do Afeganistão e em 1999 ele deixam o país. Em 1992, começou o desmancha da União Soviética. Nascia a República Russa.
Laila se apaixonou por Tariq, que perdera uma perna ao pisar numa mina. A luta de irmão contra irmão afegão recrudesceu. Muitas bombas e Cabul atacada. Tariq comunicou a Laila que ia deixar o país, partindo para o Paquistão. O pai de Laila também havia tomado essa decisão e ela ficou feliz.
Arrumando os poucos pertences que levariam, uma bomba explodiu próximo a Laila deixando-a bastante ferida e matando seus pais. Grande dor. Rashid, que era seu vizinho prestou socorro e a levou para a casa a fim de que para Mariam cuidasse dela. Ela estava com 14 anos. Mariam não entendeu a atitude dele. Em recuperação, Laila recebeu a notícia de que Tariq fora morto em combate. Mais dor e desamparo. Estava só no mundo.
Rashid comunicou-lhe que se casaria com ela e, sem saída, grávida de Tariq, aceitou o pedido. Ele estava, então, com 60 anos. Nasceu uma menina que chamou de Aziza. Ele ficou muito contrariado.
No início, Mariam e Laila se estranharam, mas, a chegada de Aziza fortaleceu os laços e cumplicidade entre elas. Mariam sentia pena de Laila. Tão criança e tão só.
A menina foi crescendo e despertou a atenção de Rashid. Ela não se parecia com ele. Os maus tratos foram também extensivos a Laila. Ela agora já defendia Mariam, o que desagradava bastante o marido. Levou a menina para um orfanato. Justificou que os tempos estavam difíceis e não poderia alimentar mais uma boca. Ambas choraram muito pois Mariam já gostava de Aziza e a protegia. Compreenderam ambas, que não eram inimigas.
Mariam, Laila e Aziza tentaram fugir, mas foram traídas por um guarda que as levou para casa. Ambas foram espancadas. Mariam, bastante machucada, foi trancada num galpão de ferramentas e Laila num quarto. Ambas incomunicáveis, sem água e sem comida. Desobedeceram às suas ordens.
Dois anos depois, os talibãs chegaram a Cabul. Eram jovens mulçumanos guerrilheiros que fugiram dos russos. As atrocidades apenas mudaram de comando.
Laila tem um menino: Zamai. Rashid ficou radiante e tudo que podia, fazia para agradar a criança com brinquedos e até mesmo uma televisão. Ela amava os dois filhos.
A loja de Rashid incendiou e perderam tudo. Sem trabalho, ficava em casa de mau humor e batia nas mulheres. Laila revidou e ele, mais forte, jogou-a no chão e passou a enforcá-la com as mãos. Mariam foi até o galpão, pegou uma pá e bateu em sua cabeça, provocando sua morte.
Tariq apareceu. A notícia de sua morte era falsa. Ele a acolheu e foram para o Paquistão. Zamai nunca ficou sabendo da morte do pai. Ele viajara e não voltou para casa, era a explicação. Mariam se entregou à polícia e confessou o crime, assumindo toda a responsabilidade. Foi executada pelos talibãs.
Laila voltou ao Afeganistão para percorrer os caminhos trilhados por Mariam, como forma de agradecimento. Foi à casa do Mulla que já havia falecido e seu filho a levou às ruinas do casebre. O filho entregou a ela um pacote contendo dinheiro e outros pertences. Era a parte da herança deixada por seu pai Jalil, caso eles soubessem onde Mariam estava.
Com o dinheiro, reformaram o orfanato onde Aziza estivera e casaram-se. Enfim, algum momento feliz em suas vidas.
Este livro me fez sentir, identificar e chorar com as mulheres afegãs, que são vistas como um objeto, numa cultura extremamente machista. O autor usou muitas palavras afegão que não dificultaram a compreensão do texto, pois seu significado é logo traduzido.
Ele apresentou duas grandes mulheres: Mariam e Laila e dois grandes homens: Mulla Faizullah e Tariq. Conhecer essa história e sofrer com seus personagens, é criar empatia e solidarizar-se com a dor do outro. Se assim não for, corre-se o risco de achar a leitura pouco interessante.
Brasília, 15 de setembro de 2022
Ena Galvão

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2 anos 1 mês atrás#121por bruno

A CIDADE DO SOL – UMA ESCRITA TERRORISTA

Murilo Moreira Veras

O livro em nosso encontro hoje, 22.03.22, é A Cidade do Sol do escritor afegão Khaled Hosseini, autor também de O Caçador de Pipa, este best-seller de venda.
1. Prólogo

Não li o livro anterior do autor, mas fui informado que era muito bom, embora a narrativa fosse triste. O presente não fica por menos. Não se trata de best-seller, estigma que, como apreciador de livros, acredito desvalorizar o mérito de uma obra, inobstante sua grande vendagem. Estranhável é seu título, inapropriado, substituído por A Cidade do Sol, acredito que modificado pelos editores, por ser mais palatável. Terá sido esse título dado para confundir com a obra medieva Cidade do Sol de Camponella? O título original em inglês é A Thousand Splendid Suns (Mil Esplêndidos Sois). De qualquer modo, fica o meu registro.

2. Enredo

O autor escreve como historiador de seu País, o Afeganistão, tal a minudência de suas descrições, nomes de cidades, locais e nomes de pessoas. Como sabemos, esse País foi atravessado por inúmeras tragédias, a história de seu provo sofrendo grandes atrocidades. Foi lá que se escondeu Bin Laden o mentor da tragédia dos bombardeios que demoliram as Torres Gêmeas de Nova York, causando verdadeira hecatombe nos Estados Unidos.
Desenrola-se, assim, uma história muito triste — a vida de duas mulheres Mairam e Laila. A vida das duas se entrelaçam, o infortúnio de uma continuando no da outra, as duas cumprindo o mesmo destino, o de terem se casado obrigatoriamente com o mesmo homem — Rashid, indivíduo de caráter irascível, ligado ao tradicionalismo da cultura mulçumana. Sem falar que há uma diferença de idade muito grande entre as desafortunadas moças, Rashid com mais de 40 anos e elas ambas de 15 e 16 anos, praticamente adolescentes. Aliás, tais casamentos são permitidos na cultura oriental, desde priscas eras.
Preparem os lenços e segurem as lágrimas que a narrativa do autor é de cortar o coração. Parece que o sr. Husseini é uma espécie de Stephen King afegão. O autor usa a técnica do corte temporal, a passagem do tempo, como nos seriados, alternando a cronologia da história.
Primeiro é o drama de Mairam, filha de Nana e resultante de relação espúria com Jahl, que é casado com duas mulheres. Desprezada pela família principal, mãe e filha moram num subúrbio de Cabul, o pai homem de posses, inclusive dono de um cinema. Mairam adora o pai, mas ela não pode vê-lo todo dia. Ela quer estudar, mas não tem como, Jahl até que gosta da menina, apenas lhe traz alguns presentes. Mairam se desentende com a mãe, que diz que ela não tem futuro, que tem de se conformar. Por sua vez Nana, sua mãe, sofre de epilepsia, vive tomando remédios fortes, torna-se uma mulher desesperada. A filha, não suportando mais a situação, foge de casa, vai procurar a casa do pai, onde não é bem recebida, ele com filhos e filhas para educar. Ocorre o sinistro: Nana, a mãe, à falta da filha, se enforca. Enfim só há uma solução para a menina de 15 anos: se casar. E assim que, contra sua vontade, o pai a dá em casamento ao sapateiro Rashid, de mais de 40 anos, viúvo, mas com profissão e casa própria. No princípio, tudo parece bem, a menina sujeita ao sapateiro. Mas logo começam as brigas, Rashid insatisfeito com as tarefas dela, até quando começa a castigá-la com seu cinto, trancafiar a menina, principalmente quando grávida, em vez de menino, como ele queria, dá luz a uma menina, que morre ao nascer. É uma tragédia em cima da outra. E a este cenário familiar trágico se sobrepõe a guerra pela ocupação do Afeganistão, ora de comunistas, ora dos americanos e dos supostos nacionalistas — até a implantação no País do terrível regime dos talibãs.
Anos depois, outro drama. Desta vez é também de uma menina de 15 a 16 anos, Laila, bonita, saudável, inteligente.

No meio de um conflito, no dia em ela e os pais iam se mudar da cidade, eis que uma bomba atinge sua casa e seus pais morrem estupidamente, apenas ela se salva. Mais uma vez os fios do destinam se deslindam e Laila é salva dentre os escombros nada menos que pelo sapateiro Rashid, que morava ali perto. Desamparada e com ferimentos leves, Rashid leva-a para sua casa, onde é tratada por Mairam, como se fosse sua filha. Passam-se algum tempo, Laila já recuperada ajuda Mairam nas tarefas de casa, às vezes chegam a se desentenderem. E vem mais tragédia. Rashid começa a se desgostar da situação, porque Laila está grávida de seu primeiro namorado, Tarik, que, por sinal, perdeu uma perna numa escaramuça anterior. Rashid se melindra com que os outros vão falar, ele não pode ficar sustentando mais uma mulher em casa, além disso grávida. Então ele sugere e põe em prática um plano: casar-se com Laila. Aliás boa solução, pois ele já vivia às turras com Mairam. Mesmo contra vontade, Laila aceita o nefando ato. Laila tem uma filha: Aziza. Rashid fica de novo irascível, sabe que não é dele, mas do antigo namorado de Laila, Tarik. Começa a maltratar também a segunda mulher.

Vem outro filho: Zalmai, que ele passa a adorar, esquecendo a filha.
A história vai crescendo em ritmo alucinante, seja pelos horrores praticados pelos talibãs, seja na família de Rashid, suas duas esposas e filhos. Rashid cada vez mais intolerante, açoita as duas, só tem olhos para o menino. Agora sabe que Tarik, o primeiro namorado de Laila, está vivo, os dois estão se encontrando. Então, dá-se um gran finale — que não poderia ser senão o de um fim hediondo, lancinante, como o é toda esta história. Rashid num ataque de furor, quer esganar Laila, esta sem defesa, luta para sobreviver, então Mairam pega um ancinho e com toda a sua força o abate, duas vezes, matando o agressor. O resto é o imaginável como o fim dessa trágica história — Mairam é presa pelos talibãs e degolada em praça pública. Por fim, algumas páginas adiante para conter a tensão, o autor alivia o pobre leitor com alguns momentos de trêfega felicidade entre mortos e feridos.

3. Alguma Crítica

A meu ver, o livro sr. Khaled não é um best-seller, porque sua escritura é realmente literária, escorreita, evidenciada na tradução primorosa de Maria Helena Rouanet. Vê-se-lhe bem urdida a trama, as descrições detalhistas, os personagens ao todo são redondos, plausíveis e bem estruturados na argamassa do romance. Poderíamos classificar a escritura do autor como enquadrada no veracismo, ou seja, espécie de ultrarrealismo, quase próximo ao terrorífico, digamos de Stephen King. É o estilo, por exemplo, do escritor brasileiro Rubem Fonseca e José Louzeiro, nos quais, torcendo-se as letras, elas respingam nada menos que sangue.
Bsb, 17.03.22

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